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quinta-feira, 24 de março de 2016

Analise do Estudo de Caso da Lecto Escrita

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA - UESB           DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS – DCHL
CURSO: PEDAGOGIA VI SEMESTRE
DISCIPLINA: METODOLOGIA DA ALFABETIZAÇÃO
DOCENTE: MARIA DA CONCEIÇÃO FERREIRA
DISCENTE: JACINEIA DOS REIS MATOS

 


Analise Comparativa: Lecto Escrita



Este trabalho visa relatar a analise de um estudo de caso com uma criança que esteja em processo de alfabetização, tem por objetivo pontuar algumas barreiras e possibilidades vivenciadas no contexto de ensino e aprendizagem durante o processo da lecto escrita. Trata-se, portanto, de um estudo que contém resultados parciais de um trabalho que esta sendo desenvolvido para fins avaliativos da disciplina Metodologia da Alfabetização. Este estudo é fruto de inquietações que foram surgindo ao longo do VI semestre em que estudamos grandes referencias da alfabetização como: Emília Ferreiro e Ana Teberosky, estas são pesquisadoras da Psicogênese da língua escrita, e de aspectos linguísticos pertinentes à alfabetização.

Em suas pesquisas Ferreiro e Teberosky (1986) desenvolvem aspectos propriamente linguísticos da Psicogênese da língua escrita, descrevem o aprendiz formulando hipóteses a respeito do código, percorrendo um caminho que pode ser representado nos níveis pré-silábico, silá­bico, silábico- alfabético e alfabético. Essa construção, demonstra que a pesquisa segue uma linha regular, organizada em três grandes períodos: 1º) o da distinção entre o modo de representação icônica (imagens) ou não icônica (letras, números, sinais); 2º) o da construção de formas de diferenciação, controle progressivo das variações sobre o eixo qualitativo (variedade de gra­fias) e o eixo quantitativo (quantidade de grafias). Esses dois períodos configuram a fase pré­-linguística ou pré-silábica; 3º) o da fonetização da escrita, quando aparecem suas atribuições de sonorização, iniciado pelo período silábico e terminando no alfabético. (MENDONÇA, MENDONÇA p.38).

Esta intervenção foi realizada com uma criança de 6 anos de idade, que irá cursar o 1º ano “alfabetização” em 2016.  Em meio as minhas observações notei que o aluno se encontra entre os níveis de aprendizagem pré- silábico e silábico, durante a realização da atividade percebi que o aluno estava desatento a atividade proposta. Os autores expõem que:

 No nível pré-silábico, em um primeiro momento, o aprendiz pensa que pode escrever com desenhos, rabiscos, letras ou outros sinais gráficos, imaginando que a palavra assim inscrita representa a coisa a que se refere. Há um avanço, quando se percebe que a palavra escrita representa não a coisa diretamente, mas o nome da coisa. Ao aprender as letras que compõem o próprio nome, o aprendiz percebe que se escreve com letras que são diferentes de desenhos.  (MENDONÇA, MENDONÇA p.39).

O aluno em questão já sabe escrever o seu nome “ZAQUEU” e também já avançou não representa as palavras com desenhos, às letras já fazem parte de seu amplo conhecimento, porém ele ainda não dá significado às palavras. Nota-se que o aluno de tanto repetir as letras que compõe o seu nome as decorou de modo a esquecê-las em alguns momentos. Ao analisar esta questão percebe-se claramente que este se encontra no nível pré-silábico. Segundo os autores:

 Ainda neste nível, mesmo após tomar consciência de que se escreve com letras, o aprendiz tenderá a grafar um número de letras, indiscriminado, sem antecipar quantos e quais ca­racteres precisará usar para registrar palavras. Por exemplo, quando o professor pedir que escreva gato, poderá escrever RARDICO, normalmente limitando-se a usar apenas um pequeno inven­tário de letras, como as de seu nome (RICARDO, por ex.), sem correspondência sonora alguma. (MENDONÇA, MENDONÇA p.39).

Durante o estudo de caso Zaqueu ao escrever as palavras LOBO, DADO, BANANA representou utilizando as letras do seu nome “aeueu” não tendo a noção de quantos caracteres ele precisaria para escrever o que foi proposto, é curioso notar que na a palavra DADO ele representou seguindo a mesma perspectiva porem para cada letra ele pois um símbolo, representando deste modo “iueu”, ou seja, ele acertou a quantidade de letras, porém de maneira instintiva.

 Em minhas analises também notei algumas características o nível silábico, de acordo com os autores:

Assim, a passagem para o nível silábico é feita com atividades de vinculação do discurso oral com o texto escrito, da palavra escrita com a palavra falada. O aprendiz descobre que a palavra escrita representa a palavra falada, acredita que basta grafar uma letra para se poder pronunciar uma sílaba oral, mas só entrará para o nível silábico, com correspondência sonora, à medida que seus registros apresentarem esta relação, por exemplo, para MENINO grafar, MIO (M=me, I=ni, O=no), para GATO, GO (G=ga, O=to), BEA (B=bo, E=ne, A=ca) para BO-NE­-CA, e assim por diante. (MENDONÇA, MENDONÇA p. 39-40).

Ao escrever a palavra foca, o aluno a representou com apenas duas letras “ao” reconhecendo assim o som das vogais na palavra. Demostrou assim que também está no nível silábico. Ao final eu pedi que ele fizesse o alfabeto e ele sempre retomava a letra “A” fazendo uma sequencia até chegar a letra em que parou na durante a construção, houve um momento em que ele cansou de voltar ao inicio para escrever o alfabeto e representou com várias letras L, logo após de preencher todas as linhas propostas pela atividade de sondagem o aluno falou “pronto terminei”.

É comum, principalmente entre as crianças, encontrarmos alunos que parecem “comer le­tras” ou usar mais letras do que as palavras requerem. Entretanto, os adultos reconhecem como palavras, combinações de letras e sílabas com algum significado e que se distinguem dos de­senhos. Sabem que o alfabeto não basta, para ler e escrever. Muitos o sabem de cor, inclusive com o valor fonético das letras, mas não conseguem combiná-las. Isto pode implicar condutas diferenciadas na orientação de crianças que aceitam bem a didática do nível pré-silábico, e de adultos que preferem segmentos maiores com significação, caminhando da palavra para a análise das famílias silábicas. (MENDONÇA, MENDONÇA p.40).

Após esta análise foi possível concluir que o aluno em questão reconhece as letras do alfabeto, mas não faz a diferenciação entre maiúsculas e minúsculas, para representar a letra K, ele utilizou a letra Q, o que é bastante normal em sua idade, pois as duas possuem sons parecidos, mais tarde, ao longo de seu processo de alfabetização ele irá avançar para os níveis silábico-alfabético e alfabético.
 

Referencias:

MENDONÇA, Onaide; MENDONÇA, Olympio. Escrita: contribuições, equívocos e consequências para a alfabetização. Revista: conteúdo e didática de alfabetização. Unesp. p. 36-57.

Contribuições da Psicogênese da Língua Escrita


UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA - UESB
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS – DCHL
CURSO: PEDAGOGIA VI SEMESTRE
DISCIPLINA: METODOLOGIA DA ALFABETIZAÇÃO
DOCENTE: MARIA DA CONCEIÇÃO FERREIRA
DISCENTE: JACINEIA DOS REIS MATOS
 

FICHAMENTO
 

Contribuições da Psicogênese da Língua Escrita

 
MENDONÇA, Onaide Schwartz; MENDONÇA, Olympio Correa de. Psicogênese da Língua Escrita: contribuições, equívocos e consequências para a alfabetização. In: UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA. Pró-Reitoria de Graduação. Caderno de formação: formação de professores: Bloco 02: Didática dos conteúdos. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2011. v. 2. p. 36-57. (D16 - Conteúdo e Didática de Alfabetização). Disponível em: <http://acervodigital.unesp.br/handle/123456789/40138>. Acesso em: 10/12/15.


“Ferreiro e Teberosky, psicolinguistas argentinas, iniciaram em 1974 uma investigação, par­tindo da concepção de que a aquisição do conhecimento se baseia na atividade do sujeito em interação com o objeto de conhecimento e demonstraram que a criança, já antes de chegar à escola, tem ideias e faz hipóteses sobre o código escrito, descrevendo os estágios linguísticos que percorre até a aquisição da leitura e da escrita. ” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 37).

 “[...] pretendemos demonstrar que a aprendizagem da leitura, entendida como ques­tionamento a respeito da natureza, função e valor deste objeto cultural que é a escrita, inicia-se muito antes do que a escola imagina, transcorrendo por insus­peitados caminhos. Que além dos métodos, dos manuais, dos recursos didáticos, existe um sujeito que busca a aquisição de conhecimento, que se propõe problemas e trata de solucioná-los, segundo sua própria metodologia... insistiremos sobre o que se segue: trata-se de um sujeito que procura adquirir conhecimento, e não simplesmente de um sujeito disposto ou mal disposto a adquirir uma técnica par­ticular. Um sujeito que a psicologia da lecto-escrita esqueceu [...]” (FERREIRO; TEBEROSKY, 1986, p. 11 apud MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 37).

“A descoberta do processo de aquisição da língua escrita, por crianças, levou Ferreiro (1983) a indagar se sua pesquisa aplicada a adultos analfabetos encontraria os mesmos resultados. [...] A pesquisa mostrou que o analfabeto adulto, assim como as crianças, sabe, mesmo antes de vir para a escola, que a escrita é um sistema de representação e fazem hipóteses de como se dá tal representação. Ocorrência esta que Ferreiro (1983) já havia notado, quando observa que, enquanto é muito fácil conseguir de uma criança pré-alfabetizada produções escritas, no adulto analfabeto a “consciência de não saber” é muito forte e ele se sente incapaz de tentar escrever. (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p.38)

“No nível pré-silábico, em um primeiro momento, o aprendiz pensa que pode escrever com desenhos, rabiscos, letras ou outros sinais gráficos, imaginando que a palavra assim inscrita representa a coisa a que se refere.

Somente quando for questionado sobre a quantidade de vezes que abrimos a boca para pro­nunciar determinada palavra é que o aluno começará a antecipar a quantidade de letras que deverá registrar para escrever”. (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 39).        

“Assim, a passagem para o nível silábico é feita com atividades de vinculação do discurso oral com o texto escrito, da palavra escrita com a palavra falada. O aprendiz descobre que a palavra escrita representa a palavra falada, acredita que basta grafar uma letra para se poder pronunciar uma sílaba oral, mas só entrará para o nível silábico, com correspondência sonora, à medida que seus registros apresentarem esta relação, por exemplo, para MENINO grafar, MIO (M=me, I=ni, O=no), para GATO, GO (G=ga, O=to), BEA (B=bo, E=ne, A=ca) para BO-NE­-CA, e assim por diante”. (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 40).

“Assim, diferentemente dos adultos, as crianças parecem passar pelas fases pré-silábica e silábica, atingindo finalmente a alfabética. Nesse nível alfabético, o aprendiz analisa na pala­vra suas vogais e consoantes. Acredita que as palavras escritas devem representar as palavras faladas, com correspondência absoluta de letras e sons. Já estão alfabetizados, porém terão conflitos sérios, ao comparar sua escrita alfabética e espontânea com a escrita ortográfica, em que se fala de um jeito e se escreve de outro”. (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 40).  

O Equívoco da Exclusão do Ensino de Conteúdo Específicos da Alfabetização

“Reafirmamos que o construtivismo, com base na Psicogênese da língua escrita, teoria formulada e comprovada experimentalmente por Emília Ferreiro e Ana Teberosky (1986), há mais de vinte anos foi introduzido no Brasil, para contribuir na me­lhoria da qualidade da alfabetização, e adotado pelos mais importantes sistemas públicos de ensino. Nesse tempo, vem abalando as crenças e os fundamentos da alfabetização tradicional, mudando drasticamente a linha de ensino das escolas e levando os professores a um grande conflito metodológico”. (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 40).

“É comum também ver-se um professor que se diz construtivista ensinando silabação, montando e desmontando palavras num mero exercício de memorização” (LAGÔA apud MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 40).

“Embora escrever e ler sejam comportamentos que ultrapassem de muito a aprendi­zagem das relações entre os sons da fala e as letras da escrita, essa aprendizagem, é, inegavelmente, o primeiro passo na formação desses comportamentos. Ora, é justamente nesse primeiro passo que tem fracassado a escola brasileira já que os altos índices de repetência se verificam na série em que se inicia a aprendizagem da língua escrita”. (ALVARENGA et al. 1989, p. 6 apud MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 43).

“Fundamentalmente a aprendizagem é considerada, pela visão tradicional, como técnica. A criança aprende a técnica da cópia, do decifrado. Aprende a sonorizar um texto e a copiar formas. A minha contribuição foi encontrar uma explicação, segundo a qual, por trás da mão que pega o lápis, dos olhos que olham, dos ouvidos que escutam, há uma criança que pensa. Essa criança não pode se reduzir a um par de olhos, de ouvidos e a uma mão que pega o lápis. Ela pensa também a propósito da língua escrita e os componentes conceituais desta aprendizagem precisam ser compreendidos. (FERREIRO, 1985, p. 14 apud MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 43). 

“[O ato de ler] não se esgota na descodificação pura da palavra escrita ou da lingua­gem escrita, mas [...] se antecipa e se alonga na inteligência do mundo. A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançado por sua leitura crítica im­plica a percepção das relações entre o texto e contexto”. (FREIRE, 1989, p. 11-12 apud MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 44).

Consequências dos Equívocos da Interpretação da Psicogênese da Língua Escrita

“Evidentemente, nem o construtivismo, nem a Psicogênese da língua escrita são métodos, mas ainda hoje é comum, ao se questionar um alfabetizador sobre qual é seu método de ensino, obter-se a resposta: “método construtivista”. (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 44).

“A seguir, relacionamos as principais consequências e orientações equivo­cadas decorrentes da má interpretação da Psicogênese da língua escrita: Definição de alfabetização - Alfabetização ou Letramento: a confusão inicial se deu por conta da própria definição de alfabetização. Definir alfabetização e letramento é de suma importância, pois são dois processos distintos e da sua compreensão dependerão os resultados da alfabetização em sala de aula”. (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 45).

“Em síntese: alfabetização é o processo pelo qual se adquire o domínio de um código e das habilidades de utilizá-lo para ler e escrever, ou seja: o domínio da tecnologia – do conjunto de técnicas – para exercer a arte e ciência da escrita”. (SOARES, 2003b, p. 80 apud MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 45).

“Assim, alfabetizar sig­nifica ensinar uma técnica, a técnica do ler e escrever. Quando o aluno lê, realiza a decodifica­ção (decifração) de sinais gráficos, transformando grafemas em fonemas; quando ele escreve, codifica, transformando fonemas em grafemas. Esse é um aprendizado complexo, que exige diferentes formas de raciocínio, envolvendo abstração e memorização. A escrita é uma conven­ção e, portanto, precisa ser ensinada” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 45).

Por outro lado, temos o Letramento, conceituado por Soares (2003b) da seguinte forma: “Ao exercício efetivo e competente da tecnologia da escrita denomina-se letramen­to, que implica habilidades várias, tais como: capacidade de ler ou escrever para atingir diferentes objetivos – para informar ou informar-se, para interagir com ou­tros, para imergir no imaginário, no estético, para ampliar conhecimentos, para seduzir ou induzir, para divertir-se, para orientar-se, para apoio à catarse...; habili­dades de interpretar e produzir diferentes tipos e gêneros de textos; habilidades de orientar-se pelos protocolos de leitura que marcam o texto ou de lançar mão desses protocolos, ao escrever; atitudes de inserção efetiva no mundo da escrita, tendo interesse e prazer em ler e escrever, sabendo utilizar a escrita para encontrar ou fornecer informações e conhecimentos, escrevendo ou lendo de forma diferencia­da, segundo as circunstâncias, os objetos, o interlocutor” (SOARES, 2003b, p. 80 apud MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 46).  

Trabalha-se o que é específico à alfabetização, quando se ensinam as relações entre fone­mas e grafemas, mostrando quais e quantas letras são necessárias para se escrever as palavras, quando se apresenta a composição silábica, a separação de sílabas das palavras, a segmentação das palavras dentro de um texto, a ortografia, aspectos referentes à estrutura do texto, o uso de letras maiúsculas e minúsculas etc.” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 47).

“Desse modo, concluímos que alfabetização e letramento são realmente processos distintos, mas que devem ser realizados concomitantemente, a fim de se assegurar uma aprendizagem de qualidade, porém o processo de alfabetização, por ser específico e convencional, precisa ser sistematicamente ensinado e, portanto, merece esforço e dedicação especiais. A alfabetização diluída e inconclusa no processo de letramento, como vem sendo feito, é inaceitável, todavia os resultados das avaliações sobre leitura e interpretação de texto demonstram, hoje, que, além da conduta exclusiva “construtivista”, não conseguir alfabetizar representa incompetência tam­bém para letrar” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 47).

“Suportes de textos: nas propostas “construtivistas” elaboradas e implantadas, ensinava-se que era para trabalhar com a realidade e interesse dos educandos, e que era importante explorar rótulos, embalagens, receitas de culinária, panfletos publicitários. Contudo, a literatura infantil foi o gênero textual que predominou na alfabetização sob o pretexto de contextualizar o traba­lho”. (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 47).  

“Os alunos aprendem a escrever só de ver o professor escrevendo na lousa: outra orientação afirmava que o professor deveria contar histórias, em seguida, pedir aos alunos que as recon­tassem e, assumindo o papel de “escriba” da sala, reescrevesse o texto recontado na lousa, sob a justificativa de que só de ver o professor à lousa, aprenderiam” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 48).

“A escrita se apresenta como um conjunto de habilidades adquiridas no campo linguístico. Para que aconteça, é necessário relacionar as unidades de sons da fala aos símbolos gráficos e, para complementar, é preciso ter a habilidade de expressar as ideias sabendo organizá-las na língua escrita. A escrita é a habilidade do sujeito em transcrever a fala, obedecendo a uma série de características discursivas específicas da língua escrita, pois falamos de um jeito e escrevemos de outro. Na linguagem falada, rotineiramente usamos expressões (gírias: legal, tipo assim, é isso aí cara! etc.), ou variações fonéticas (escrevemos leite e falamos leitchi em São Paulo, Minas Gerais etc.), que não poderão aparecer na escrita. Esta seleção do que posso ou não escrever envolve habilidades linguísticas e discursivas que precisam ser trabalhadas”. (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 48).  

“Não precisa ensinar, a criança aprende sozinha: um outro equívoco divulgado à época era o de que o professor não precisava ensinar, porque a criança aprendia sozinha. [...] Entretanto, um construtivista pode ainda argumentar no sentido de que, se o professor reali­zar atividades que envolvam o manuseio e reconhecimento de letras associadas ao som da fala, trabalhar com os nomes dos alunos reconhecendo letras iniciais, mediais e finais, ou ainda, se o docente empregar a leitura de parlendas, letras de músicas, poesias e conjuntamente a estas associar atividades de escrita de nomes de objetos, em que o aluno tente exercitar os conheci­mentos desenvolvidos na leitura, na escrita, o aluno irá alfabetizar-se”. (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 49).

“Assim, desse resultado negativo pode-se comprovar (através da observação) que, a exemplo da cartilha, as atividades de escrita têm predominado sobre as de leitura, nas salas de alfabeti­zação. Talvez, na tentativa de ocupar os alunos, atividades de escrita são distribuídas de forma desorganizada e em quantidade sobre as crianças, o que torna a aprendizagem da leitura e da escrita ainda mais complexa do que já é, levando muitas a fracassarem na aprendizagem, sendo estigmatizadas ou consideradas, por leigos em alfabetização, como portadoras de distúrbios de aprendizagem”. (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 51).

“Pedir ao aluno que escreva do seu jeito: outra orientação era a de pedir aos alunos que escre­vessem da forma como sabiam, para que não fossem reprimidos como a cartilha fazia, ao permi­tir que escrevessem usando apenas elementos dominados”. (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 51,52).

“O professor não pode corrigir o aluno: Ferreiro e Teberosky defendem uma alfabetização ativa, baseada no questionamento, de modo que, quando o aluno questionar o professor sobre a maneira de escrever determinada palavra, ou quando grafar uma palavra usando letras ina­dequadas, ou ainda faltando letras, que o professor não forneça a resposta diretamente, mas devolva o questionamento, induzindo o indivíduo a refletir sobre o objeto de conhecimento com o qual está trabalhando”. (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 52).

“Contudo, reprovar o aluno e mantê-lo por mais um ano no sistema demanda recursos, de sorte que houve um momento em que a escola começou a ser cada vez mais estimulada a não reprová-los. Em hipótese alguma se defende a reprovação como solução do problema, mas sim que a escola deve oferecer condições e ensinar, para que o aluno aprenda e não precise ser re­provado. Isto é o correto, porém até o momento a escola não consegue fazer”.  (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 52).

“O salto entre atividades de nível pré-silábico para as de nível alfabético: nas atividades de nível pré-silábico, desenvolvem-se basicamente habilidades de reconhecimento de letras e de seu nome; contudo, nas estratégias de nível alfabético trabalha-se com a produção de palavras inteiras e o aluno é incentivado inclusive a produzir textos”. (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 53).  

“Emília Ferreiro e Ana Teberosky fizeram críticas pontuais à cartilha por partir de palavras­-chave, sem contextualização, com a finalidade de desenvolver famílias silábicas de modo me­cânico, sempre em uma mesma sequência, e ainda usar pretextos (e não textos) para a mera memorização das sílabas, sem esclarecimento linguístico sobre a necessidade de se dominar as sílabas, não apenas para a construção de palavras, mas também para sua eventual correta segmentação (divisão de sílabas na escrita). As autoras citadas, que não são alfabetizadoras, jamais se posicionaram contra o ensino da sílaba, porque a sílaba é intuitiva na fala do alfabe­tizando em línguas neolatinas”. (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 53).

“Enfatizamos que não defendemos a silabação feita pela cartilha, recitada em coros mecâni­cos, com a sequência tradicional das letras: a, e, i, o, u, mas a apresentação da família silábica, e a cada apresentação, dispondo-se em uma ordem diferente, para que o aluno não memorize a sequência, mas compreenda que, no caso das sílabas simples, associando uma consoante a uma vogal obtém-se a sílaba e que, unindo sílabas de modo organizado, compomos palavras com significado. Ex: BA-BO-BE-BU-BI, alternando as sílabas e não as excluindo”. (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 53).

“O preconceito contra a sílaba: a pesquisa de Ferreiro e Teberosky tem como mérito, para a alfabetização, a revelação dos níveis e das hipóteses que são elaboradas pelo alfabetizando, em seu processo de construção e aquisição da escrita. A reação lógica esperada do alfabetizador seria a de que, de posse desses conhecimentos, compreendesse automaticamente a essência dos “erros” cometidos pelos alunos, e o que é mais importante, soubesse como intervir no pro­cesso, para que o sujeito avançasse. De modo que, se o aluno apresentasse amostras de escrita próprias do nível pré-silábico, registrando desenhos ao invés de letras, por exemplo, o professor desenvolveria atividades que fizessem esse aluno perceber que está equivocado em sua hipóte­se e compreendesse a necessidade do uso de letras, ao escrever”.  (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 39). (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 54).

“Como a teoria construtivista afirma que é o sujeito que constrói seu conhecimento, o pro­fessor não pode intervir: enfim, há a concepção equivocada, entre “intelectuais de gabinete” da educação, de que se a conduta na alfabetização for construtivista, o professor não poderá intervir com atividades que ajudem o aluno a avançar, alegando que, se a criança é o sujeito do conhecimento, é preciso deixar que avance sozinha”. (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 54).

“Talvez este equívoco seja o maior responsável pelo atual fracasso na aprendizagem da lei­tura e da escrita. É como se houvesse uma cortina de fumaça que impedisse a visão, ou como se alguém tivesse realizado uma lavagem cerebral nos responsáveis pelas divulgações de tais concepções, já que é inconcebível ao alfabetizador aplicar frequentemente avaliações diagnós­ticas para verificação dos níveis dos alunos e permanecer de mãos atadas sem poder ajudá-los”. (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 55).  

“O alfabetizador que é ou já foi responsável pela alfabetização de centenas de alunos sabe que apresentar a composição silábica através de atividades do nível silábico (atividades que explorem a decomposição e composição silábica de palavras) é providência indispensável para a superação das dificuldades de compreensão da combinação consoante/vogal na formação silábica e da combinação destas na constituição de palavras”. (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 55).

“Nesse sentido, é urgente a adoção de metodologia adequada para que crianças sejam alfa­betizadas em nosso país, assumindo a definição de alfabetização, em sua especificidade, como conjunto de técnicas para exercer a arte e a ciência da escrita”. (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 55).

“O construtivismo teve seu mérito, à medida que destronou a cartilha e apresentou uma teoria sobre a aquisição da escrita. Entretanto, segundo Soares (2003a), na época da cartilha havia método sem teoria sobre alfabetização, hoje há uma bela teoria, mas não se tem método. O ideal é que se tenha um método com base em uma teoria de alfabetização”. (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 56).

O Pensamento de Emília Ferreiro Sobre Alfabetização


UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA – UESB
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS – DCHL 
CURSO: PEDAGOGIA
DISCENTE: JACINEIA DOS REIS MATOS
                                                                      

FICHAMENTO

 

O Pensamento de Emília Ferreiro Sobre Alfabetização

MELLO, Márcia Cristina de Oliveira. O pensamento de Emília Ferreiro sobre alfabetização. Revista Moçambras: acolhendo a alfabetização nos países de língua portuguesa, São Paulo, ano 1, n. 2, 2007. Disponível em: <http://www.mocambras.org>. Publicado em: março 2007.

 
Segundo a autora “a partir de meados da década de 1980, os resultados da pesquisa sobre a psicogênese da língua escrita, desenvolvida por Emília Ferreiro e colaboradores, enfeixados sob a denominação ―construtivismo‖, foram considerados referencial teórico, por exemplo, no estado de São Paulo, para o Ciclo Básico de Alfabetização (CBA).  (MELLO, 2007, p.87).

Mello expõe que “Emília Ferreiro ganhou prestígio por desenvolver, com seus colaboradores, pesquisa empírica que lhe permitiu formular a teoria sobre a psicogênese da língua escrita, a qual foi divulgada em diversos países, dentre eles, o Brasil. Sua atuação profissional revela, também, o compromisso político em contribuir na busca de soluções para se enfrentar o problema do analfabetismo”.  (MELLO, 2007, p.87).

Para a pesquisadora, “a língua escrita deve ser entendida como um sistema de representação da linguagem, concepção que se opõe àquela em que a língua escrita é considerada como codificação e decodificação da linguagem”. (MELLO, 2007, p.88).

Consequentemente, “Ferreiro se opõe ao conceito de alfabetização entendido como a aprendizagem de duas técnicas diferentes (codificar e decodificar a língua escrita), em que o professor é o único informante autorizado. Ferreiro defende, então, o conceito de alfabetização que vai em sentido contrário, já que a considera como o processo de aprendizagem da língua escrita. Essa aprendizagem, considerada, também, ―aprendizagem conceitual, dá-se por meio da interação entre o objeto de conhecimento (a língua escrita) e o sujeito consciente (que quer conhecer)”. (MELLO, 2007, p.88).

A autora explana que “a análise de Psicogênese da língua escrita propiciou confirmar sua relevância no que se refere à compreensão do pensamento construtivista de Emilia Ferreiro sobre alfabetização. Essa importância deriva justamente do fato de nele estar contida o que denomino -matriz invariante desse pensamento, considerado pelas autoras do livro, como já mencionei, e por outros pesquisadores, uma - revolução conceitual em alfabetização”. (MELLO, 2007, p.90).

Nesse processo, a autora aponta que “as crianças reconstroem o conhecimento sobre a língua escrita, por meio de uma elaboração pessoal, a qual se dá por sucessão de etapas, cada uma delas representando um estágio importante do processo. Assim, a interpretação do processo é explicada do ponto de vista das crianças que aprendem, levando-se em consideração o conhecimento específico que possuem antes de iniciar a aprendizagem escolar, a saber: a escrita não representa apenas um traço ou marca, mas sim um objeto substituto”. (MELLO, 2007, p.90).

Alfabetização e Escolarização: A Instituição do Letramento Escolar


UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA – UESB DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS – DCHL
 CURSO: PEDAGOGIA
DISCENTE: JACINEIA DOS REIS MATOS



FICHAMENTO



Alfabetização e escolarização: a instituição do letramento escolar

SANTOS, Carmi Ferraz. Alfabetização e escolarização: a instituição do letramento escolar. In: SANTOS Carmi Ferraz e MENDONÇA Márcia. Alfabetização e letramento: Conceitos e relações. 1ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.p. 23-35.


A autora aborda que "pesquisadores voltados para discussões sobre o letramento têm questionado essa visão da alfabetização popular como meramente um produto desse processo de escolarização de massa impulsionado pela industrialização". (SANTOS, 2007, p.24).
Santos cita Cook-Gumperz (1991), e discutindo essa relação entre alfabetização e escolarização, afirma que "a alfabetização de uma parcela considerável da população da Europa precedeu o desenvolvimento industrial. Antes do desenvolvimento de um sistema burocrático de ensino, o processo de alfabetização ocorria de modo informal, a aprendizagem da leitura e da escrita se dava nos grupos aos quais as pessoas faziam parte e nos mais variados ambientes, como a própria casa ou local de trabalho". (COOK-GUMPERZ 1991 apud SANTOS, 2007, p.25).
A autora aponta que "não foi a escolarização que promoveu a alfabetização. Pelo contrário, a escolarização foi uma consequência do desenvolvimento de uma alfabetização popular que promoveu uma cultura popular letrada que se constituiu como parte de um movimento em favor de mudanças sociais, entre elas o acesso à escola". (SANTOS, 2007, p.27).
Segundo Cook-Gumperz, "a demanda por uma escola formal partiu de pelo menos duas forças: 1) da pressão das pessoas comuns que defendiam a alfabetização e a conquista da escolarização como parte de seu desenvolvimento pessoal e social; 2) da crescente necessidade de uma força de trabalho com um senso de disciplina e de competências escolares". (COOK-GUMPERZ 1991 apud SANTOS, 2007, p.27).
Entretanto a autora expõe que "para outros o valor da instrução institucionalizada estava em possibilitar a retirada da alfabetização das mãos de grupos populares, promovendo, assim, um ensino sob controle do sistema público". (SANTOS, 2007, p.27).
De acordo com Gumperz, "a implantação de um sistema público de instrução nos séculos XVIII e XIX parece não ter ocorrido como estímulo à alfabetização da população, mas, pelo contrário, buscou subjugá-la, controlando "tanto as formas de expressão quanto de pensamento". (COOK-GUMPERZ, 1991, apud SANTOS, 2007, p.28).
No entanto, a autora explana que "não se pode negar o papel que a escola exerce hoje em nossa sociedade e que, para muitos indivíduos, ela seja, talvez, o único meio de acesso à aprendizagem sistemática da escrita. É preciso considerar também que a escola apresenta suas especificidades e, por isso, discutir as práticas de alfabetização realizadas dentro de seus muros não se trata apenas de substituir as formas de trabalho escolar". (SANTOS, 2007, p.33).


Conceituando Alfabetização e Letramento


UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA – UESB DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS – DCHL
CURSO: PEDAGOGIA
DISCENTE: JACINEIA DOS REIS MATOS



FICHAMENTO

Conceituando Alfabetização e Letramento 



ALBUQUERQUE, Eliana Borges Correia. Conceituando alfabetização e letramento. In: SANTOS Carmi Ferraz e MENDONÇA Márcia. Alfabetização e letramento: Conceitos e relações. 1ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.p. 11-21.

A partir da leitura do texto Conceituando Alfabetização e Letramento, compreende-se que "a maioria de nós, que passamos pela alfabetização até as décadas finais do século passado, teve uma experiência escolar com ênfase na ‘codificação’ e ‘decodificação’. Para muitos, essa experiência foi traumatizante". (ALBUQUERQUE, 2007, p.12). "Somente a partir da década de 1980, o ensino da leitura e da escrita centrado no desenvolvimento das referidas habilidades, desenvolvido com o apoio de material pedagógico que priorizava a memorização de sílabas ou palavras e/ou frases soltas, passou a ser amplamente criticado". (ALBUQUERQUE, 2007, p.15).
No que diz respeito à alfabetização especificamente, "surge o conceito de "analfabetismo funcional" para caracterizar aquelas pessoas que, tendo se apropriado das habilidades de ‘codificação’ e ‘decodificação’, não conseguiam fazer uso da escrita em diferentes contextos sociais". (ALBUQUERQUE, 2007, p.16). A autora na busca de uma definição para letramento cita Soares (1998), "o termo letramento é a versão para o Português da palavra de língua inglesa literacy, que significa o estado ou condição que assume aquele que aprende a ler e a escrever". Esse mesmo termo é definido no Dicionário Houaiss (2001) "como um conjunto de práticas que denotam a capacidade de uso de diferentes tipos de material escrito". (SOARES, 1998 apud ALBUQUERQUE, 2007, p.16). Soares (1998), ainda expõe que "muitos adultos de países desenvolvidos, tendo alcançado um letramento escolar, são capazes de comportamentos escolares de letramento (ler e produzir textos escolares), mas são incapazes de lidar com os usos cotidianos da leitura e da escrita em contextos não-escolares". (SOARES, 1998 apud ALBUQUERQUE, 2007, p.18).
Albuquerque discute que "o ensino tradicional de alfabetização em que primeiro se aprende a "decifrar um código" a partir de uma sequência de passos/etapas, para só depois se ler efetivamente, não garante a formação de leitores/escritores". (ALBUQUERQUE, 2007, p.18). Na busca de uma solução para esta questão a autora volta a citar Soares (1998) "alfabetizar e letrar são duas ações distintas, mas não inseparáveis, ao contrário: o ideal seria alfabetizar letrando, ou seja: ensinar a ler e escrever no contexto das práticas sociais da leitura e da escrita, de modo que o indivíduo se tornasse, ao mesmo tempo, alfabetizado e letrado". (SOARES, 1998 apud ALBUQUERQUE, 2007, p.18).
A autora finaliza expondo que "ser alfabetizado, hoje, é mais do que ‘decodificar’ e ‘codificar’ os textos. É poder estar inserido em práticas diferenciadas de leitura e escrita e poder vivenciá-las de forma autônoma, sem precisar da mediação de outras pessoas que sabem ler e escrever". (ALBUQUERQUE, 2007, p.21).

segunda-feira, 14 de março de 2016

Psicogênese da Língua Escrita: contribuições, equívocos e consequências para a alfabetização.

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA - UESB
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS – DCHL
CURSO: PEDAGOGIA VI SEMESTRE
DISCIPLINA: METODOLOGIA DA ALFABETIZAÇÃO
DOCENTE: MARIA DA CONCEIÇÃO FERREIRA
DISCENTE: RAVENA ALVES SILVA


FICHAMENTO

MENDONÇA, Onaide Schwartz; MENDONÇA, Olympio Correa de. Psicogênese da Língua Escrita: contribuições, equívocos e consequências para a alfabetização. In: UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA. Pró-Reitoria de Graduação. Caderno de formação: formação de professores: Bloco 02: Didática dos conteúdos. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2011. v. 2. p. 36-57. (D16 - Conteúdo e Didática de Alfabetização). Disponível em: <http://acervodigital.unesp.br/handle/123456789/40138>. Acesso em: dia mês abreviado ano.

“Ferreiro e Teberosky, psicolinguistas argentinas, iniciaram em 1974 uma investigação, par­tindo da concepção de que a aquisição do conhecimento se baseia na atividade do sujeito em interação com o objeto de conhecimento e demonstraram que a criança, já antes de chegar à escola, tem ideias e faz hipóteses sobre o código escrito, descrevendo os estágios linguísticos que percorre até a aquisição da leitura e da escrita” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 37).

“[...] Pretendemos demonstrar que a aprendizagem da leitura, entendida como ques­tionamento a respeito da natureza, função e valor deste objeto cultural que é a escrita, inicia-se muito antes do que a escola imagina, transcorrendo por insus­peitados caminhos. Que além dos métodos, dos manuais, dos recursos didáticos, existe um sujeito que busca a aquisição de conhecimento, que se propõe problemas e trata de solucioná-los, segundo sua própria metodologia... insistiremos sobre o que se segue: trata-se de um sujeito que procura adquirir conhecimento, e não simplesmente de um sujeito disposto ou mal disposto a adquirir uma técnica par­ticular. Um sujeito que a psicologia da lecto-escrita esqueceu [...]” (FERREIRO; TEBEROSKY, 1986, p. 11, apud, MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 37).

“Na fase pré-silábica do caminho que percorre até alfabetizar-se, ignora que a palavra escrita representa a palavra falada, e desconhece como essa representação se processa. Ele precisa, então, responder a duas questões: o que a escrita representa e o modo de constru­ção dessa representação” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 39).

“No nível pré-silábico, em um primeiro momento, o aprendiz pensa que pode escrever com desenhos, rabiscos, letras ou outros sinais gráficos, imaginando que a palavra assim inscrita representa a coisa a que se refere” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 39).

“Assim, a passagem para o nível silábico é feita com atividades de vinculação do discurso oral com o texto escrito, da palavra escrita com a palavra falada. O aprendiz descobre que a palavra escrita representa a palavra falada, acredita que basta grafar uma letra para se poder pronunciar uma sílaba oral, mas só entrará para o nível silábico, com correspondência sonora, à medida que seus registros apresentarem esta relação” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 40).

“Diferentemente dos adultos, as crianças parecem passar pelas fases pré-silábica e silábica, atingindo finalmente a alfabética. Nesse nível alfabético, o aprendiz analisa na pala­vra suas vogais e consoantes. Acredita que as palavras escritas devem representar as palavras faladas, com correspondência absoluta de letras e sons. Já estão alfabetizados, porém terão conflitos sérios, ao comparar sua escrita alfabética e espontânea com a escrita ortográfica, em que se fala de um jeito e se escreve de outro” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 40).

“O construtivismo, com base na Psicogênese da língua escrita, teoria formulada e comprovada experimentalmente por Emília Ferreiro e Ana Teberosky (1986), há mais de vinte anos foi introduzido no Brasil, para contribuir na me­lhoria da qualidade da alfabetização, e adotado pelos mais importantes sistemas públicos de ensino. Nesse tempo, vem abalando as crenças e os fundamentos da alfabetização tradicional, mudando drasticamente a linha de ensino das escolas e levando os professores a um grande conflito metodológico” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 40).

“A criança alfabetiza a si mesma e inicia essa aprendizagem antes mesmo de entrar na escola, e seus efeitos prolongam-se após a ação pedagógica, período durante o qual, para co­nhecer a natureza da escrita, deve participar de atividades de produção e interpretação escritas, tendo o professor o papel de mediador entre a criança e a escrita, criando estratégias que pro­piciem o contato do aprendiz com esse objeto social, para que possa pensar e agir sobre ele” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 41).

“A mediação do alfabetizador não o desobriga de seu papel de informante sobre as convenções do código escrito. Ele pode aproveitar o subsídio dos alfabetizados ou mesmo de alunos da classe que estejam em níveis mais avançados de escrita e que possam ser informantes das relações a serem descobertas pelos que se encontrem em fases de escrita mais primitivas” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 41).

“Os procedimentos didáticos tradicionais, apoiados em teorias mecânicas têm trans­formado a alfabetização em simples ato de codificar/decodificar o oral e o escrito. A codificação e a decodificação de sílabas, palavras e frases aparece dissociada de seu significado e do contexto...” (DURAN, 1988, p. 14, apud, MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 42).

“Embora escrever e ler sejam comportamentos que ultrapassem de muito a aprendi­zagem das relações entre os sons da fala e as letras da escrita, essa aprendizagem, é, inegavelmente, o primeiro passo na formação desses comportamentos. Ora, é justamente nesse primeiro passo que tem fracassado a escola brasileira já que os altos índices de repetência se verificam na série em que se inicia a aprendizagem da língua escrita” (ALVARENGA et al., 1989, p. 6, apud, MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 43).

“Fundamentalmente a aprendizagem é considerada, pela visão tradicional, como técnica. A criança aprende a técnica da cópia, do decifrado. Aprende a sonorizar um texto e a copiar formas. A minha contribuição foi encontrar uma explicação, segundo a qual, por trás da mão que pega o lápis, dos olhos que olham, dos ouvidos que escutam, há uma criança que pensa. Essa criança não pode se reduzir a um par de olhos, de ouvidos e a uma mão que pega o lápis. Ela pensa também a propósito da língua escrita e os componentes conceituais desta aprendizagem precisam ser compreendidos” (FERREIRO, 1985, p. 14, apud, MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 43).

“Na elaboração das Propostas, sob forte impacto das descobertas de Ferreiro e Teberosky (1986), houve uma tentativa de metodização da Psicogênese da língua escrita, ou seja, os organi­zadores de tais propostas tentaram, à luz da teoria, criar um método revolucionário, inovador de alfabetização, muito diferente do método das cartilhas utilizado durante décadas em nosso país” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 45).

“Alfabetizar sig­nifica ensinar uma técnica, a técnica do ler e escrever. Quando o aluno lê, realiza a decodifica­ção (decifração) de sinais gráficos, transformando grafemas em fonemas; quando ele escreve, codifica, transformando fonemas em grafemas. Esse é um aprendizado complexo, que exige diferentes formas de raciocínio, envolvendo abstração e memorização. A escrita é uma conven­ção e, portanto, precisa ser ensinada” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 46).

“Não há necessidade de primeiro aprender a técnica, para só depois dar início ao processo de letramento, bastando para tanto que, na alfabetização, sejam utilizados textos veiculados socialmente, reais, e não textos artificiais, como os da cartilha, que tinham como único objetivo a fixação de sílabas trabalha­das por meio da palavra-chave” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 47).

“Ocorre que as atividades didáticas incentivadas pelos intérpretes do construtivismo, sob a pretensão de contextualizar o trabalho, fazendo o aluno aprender “em contato com o objeto de conhecimento”, na realidade são estratégias de letramento e não de alfabetização. Se os propo­nentes de tais atividades tivessem conhecimentos linguísticos, saberiam disto. A pseudoleitura (fingir que se lê), a leitura de diferentes suportes de texto, o pedido para que os alunos recontem o que foi lido e ajudem o professor a montar um texto na lousa são atividades de letramento e não de alfabetização” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 47).

“O grande equívoco que vem ocorrendo na alfabetização, no Brasil, resulta da concepção equivocada e das práticas adotadas e divulgadas, decorrentes da má interpretação da pesquisa de Ferreiro e Teberosky, a Psicogênese da língua escrita” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 47).

“Trabalha-se o que é específico à alfabetização, quando se ensinam as relações entre fone­mas e grafemas, mostrando quais e quantas letras são necessárias para se escrever as palavras, quando se apresenta a composição silábica, a separação de sílabas das palavras, a segmentação das palavras dentro de um texto, a ortografia, aspectos referentes à estrutura do texto, o uso de letras maiúsculas e minúsculas etc” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 47).

“A definição de “alfabetização” e “letramento” é muito importante não só como fim, mas principalmente como meio. Há autores que afirmam não se poder diferenciar alfabeti­zação de letramento, pois este representaria a alfabetização plena, em seu sentido mais amplo. Concordamos com essa afirmação em termos de fim, pois seria desejável que todos os alunos concluíssem o Ensino Fundamental sabendo usar o código com desenvoltura e segurança, po­rém não é isto que acontece. Entretanto, como meio (a alfabetização propriamente dita), esta­belecer a diferença entre os dois processos é necessário, pois dessa clareza decorrerá a prática do professor na seleção de estratégias a serem empregadas para levar o aluno ao domínio do código, sem o qual, em nossa compreensão, não se pode classificar um indivíduo como letrado” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 47).

“Há outra discussão, a de que a alfabetização não é pré-requisito para o letramento. Essa afirmação procede, no período de alfabetização, uma vez que não é necessário que o aluno primeiro domine o código (como era feito no método das cartilhas) para só depois ter acesso à leitura de textos completos. Sabe-se, por meio de pesquisas, que a criança exposta à leitura de livros, artigos de jornais ou revistas e demais diferentes suportes de texto tem maior facilidade na compreensão de características específicas da língua escrita. Assim, mesmo sem dominar o código, se levada a produzir textos, apesar de reproduzir amostras de escrita de nível pré­-silábico, a criança quando solicitada a ler suas produções revelará conhecimentos que vão além da codificação e decodificação, pois em sua leitura ela estabelecerá concordância nominal e verbal, e até fará uso de pronomes (levou-a, levá-la etc.), fatos que não ocorrem na linguagem coloquial popular” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p.48).

“Segundo Soares,(2003b) na alfabetização, a grande contribuição é da linguística, que trata das relações entre sistema fonológico e sistema ortográfico, apontando o melhor caminho para a criança se apropriar desses sistemas e suas relações” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 48).

“Concluímos que alfabetização e letramento são realmente processos distintos, mas que devem ser realizados concomitantemente, a fim de se assegurar uma aprendizagem de qualidade, porém o processo de alfabetização, por ser específico e convencional, precisa ser sistematicamente ensinado e, portanto, merece esforço e dedicação especiais” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p.48).

“A escrita se apresenta como um conjunto de habilidades adquiridas no campo linguístico. Para que aconteça, é necessário relacionar as unidades de sons da fala aos símbolos gráficos e, para complementar, é preciso ter a habilidade de expressar as ideias sabendo organizá-las na língua escrita. A escrita é a habilidade do sujeito em transcrever a fala, obedecendo a uma série de características discursivas específicas da língua escrita, pois falamos de um jeito e escrevemos de outro” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 49).

“Alfabetizar exige trabalho sistemático com objetivos determinados, com carga horária diária, concentração, esforço, persistência e determinação”. (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 49).

“Em pesquisa circunstanciada, em rede municipal, verificou-se que os alunos ingres­sam no Pré I, aos quatro anos de idade, apresentando amostras de escrita pré-silábica; nos anos seguintes, passam pelo Pré II, Pré III e mais de 68% ingressam no primeiro Ciclo (antiga primeira série, atual 2° ano) apresentando, ainda, amostras de escrita pré-silábica, ou seja, estes não avançaram em seus conhecimentos sobre escrita”. (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 50-51).

“Assim, desse resultado negativo pode-se comprovar (através da observação) que, a exemplo da cartilha, as atividades de escrita têm predominado sobre as de leitura, nas salas de alfabeti­zação. Talvez, na tentativa de ocupar os alunos, atividades de escrita são distribuídas de forma desorganizada e em quantidade sobre as crianças, o que torna a aprendizagem da leitura e da escrita ainda mais complexa do que já é, levando muitas a fracassarem na aprendizagem, sendo estigmatizadas ou consideradas, por leigos em alfabetização, como portadoras de distúrbios de aprendizagem” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p.51).

“Segundo Cagliari (1999), apenas duas horas diárias de atividades de leitura são suficientes para ensinar crianças de cinco anos a ler” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 51).

“Porém, a aprendizagem da escrita (codificação de sinais) é mais complexa. Para ler, o aluno irá memorizar grafias diferentes e estabelecer a correspondência entre qual grafia representa determinado som; entretanto, para escrever (codificar), o esforço a ser empreendido é muito maior, pois tem-se observado em salas, durante duas décadas após a divulgação da Psicogêne­se, o aparecimento de outro problema quando, por exemplo, 90% dos alunos de uma classe do­minam o alfabeto, sua leitura e escrita, mas não sabem combinar letras para compor palavras” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 51).

“Após a divulgação da pesquisa de Ferreiro e Teberosky, a cartilha foi considerada a vilã, responsável pelo fracasso de 50% dos alfabetizandos e, por decorrência, culpada pela evasão escolar. Muitos professores ficaram sem saber como agir, pois todas as estratégias de ensino indicadas pela “revolucionária” alfabetização versavam sempre sobre um mesmo horizonte, ou seja, limitavam-se ao domínio da correspondência da letra com o seu nome, através das atividades de nível pré-silábico (Ex: Mariana começa com a letra M, e termina com a letra A, o trabalho pré-silábico utiliza palavras inteiras para explorar apenas os nomes das letras)” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 51).

“Uma vez que, ao aprender a escrever, o sujeito reconstrói a escrita, de modo semelhante ao processo pelo qual a humanidade passou, durante a construção da escrita que temos hoje, as pesquisadoras demonstram que o aluno elabora hipóteses sobre o objeto de conhecimento – a escrita e, portanto, esta aprendizagem é um processo de construção e compreensão individual que precisa ser respeitado, e que os erros cometidos pelo sujeito, nesse caminho, são construtivos” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p.52).

“Porém, da postura acima descrita decorreu um equívoco, muito comentado, o de que o pro­fessor não poderia corrigir o aluno. Canetas vermelhas foram abolidas das salas de aula e nos cadernos só poderia haver correções a lápis. Porém, a cor da caneta que aponta o erro é o fator de menor importância, importa a forma como é apontado, de maneira agressiva sobre o aluno (- Você é um burro! - Já não falei que não é assim?), ou respeitosa (- Você não acha que está faltando alguma letra nesta palavra: GTO-gato?)” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 52).

“Cabe lembrar que, na mesma época da divulgação da Psicogênese, houve, no Estado de São Paulo, a criação dos Ciclos Básicos, em que a permanência da criança na escola foi ampliada de quatro para cinco horas, e o curso tinha por base ciclos e não séries. O primeiro ciclo continha a 1ª e 2ª séries, e o segundo, a 3ª e 4ª séries (CBI - Ciclo Básico Inicial - e CBC - Ciclo Básico em Continuidade - respectivamente). Desse modo, o aluno era promovido do CBI para o CBC automaticamente sob o pretexto de que, na segunda etapa do 1º ciclo, o aluno que não se alfa­betizara na primeira, teria a oportunidade de concluir sua alfabetização” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 52).

“Não obstante, nesse contexto, e sob a orientação de todos os equívocos anteriormente des­critos e de outros, teve início, ainda que de modo inconsciente, o ciclo de produção de anal­fabetos, porque, como os professores foram proibidos de silabar, impedidos de usar o único instrumento que conheciam (a cartilha) e com a exigência para desenvolverem apenas atividades de nível pré-silábico, um número significativo de crianças começou a ser remetido do CBI para o seguinte CBC, sem dominar sequer a escrita de palavras com sílabas simples (aquelas compostas apenas por uma consoante e vogal: comida)” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p.52-53).

“Em consequência, a repetência deixou de ocorrer no CBI para ocorrer no CBC, pois os CBI raramente tiveram salas compostas por menos de 30/35 alunos, no CBC a realidade era a mesma, com um agravante: em uma sala com 50% dos alunos já alfabetizados, com uma gama de conteúdos novos a serem desenvolvidos, o professor não teria tempo de dar atendimento individualizado àqueles que não conseguiram alfabetizar-se no ciclo anterior” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p..53).

“Contudo, reprovar o aluno e mantê-lo por mais um ano no sistema demanda recursos, de sorte que houve um momento em que a escola começou a ser cada vez mais estimulada a não reprová-los. Em hipótese alguma se defende a reprovação como solução do problema, mas sim que a escola deve oferecer condições e ensinar, para que o aluno aprenda e não precise ser re­provado. Isto é o correto, porém até o momento a escola não consegue fazer” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p.53).

“Em inúmeros casos, a escola não conseguiu ensinar e, hoje, envergonhados, vemos índices de pesquisas, inclusive de nível internacional, que apontam o fracasso do ensino de língua materna, no Brasil. Tornou-se comum encontrarmos alunos na 6ª, 7ª, 8ª séries, concluintes do Ensino Fundamental que não sabem ler nem escrever, e outros semi-alfabetizados que con­cluem o Ensino Médio, escrevendo derepente, ni mim, apartir, naverdade, oque, na onde etc...” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p.53).

“Afinal, sabe-se que todo um sistema elitista colabora para o fracasso escolar, como a má distribuição da renda, o número excessivo de alunos por sala, a má formação do professor, in­timamente ligada aos seus vencimentos irrisórios. Entretanto, faz-se necessário considerar os maiores equívocos presentes, ainda hoje, em alfabetização” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p.53).

“Emília Ferreiro e Ana Teberosky fizeram críticas pontuais à cartilha por partir de palavras­-chave, sem contextualização, com a finalidade de desenvolver famílias silábicas de modo me­cânico, sempre em uma mesma sequência, e ainda usar pretextos (e não textos) para a mera memorização das sílabas, sem esclarecimento linguístico sobre a necessidade de se dominar as sílabas, não apenas para a construção de palavras, mas também para sua eventual correta segmentação (divisão de sílabas na escrita). As autoras citadas, que não são alfabetizadoras, jamais se posicionaram contra o ensino da sílaba, porque a sílaba é intuitiva na fala do alfabe­tizando em línguas neolatinas” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p.54).

“Enfatizamos que não defendemos a silabação feita pela cartilha, recitada em coros mecâni­cos, com a sequência tradicional das letras: a, e, i, o, u, mas a apresentação da família silábica, e a cada apresentação, dispondo-se em uma ordem diferente, para que o aluno não memorize a sequência, mas compreenda que, no caso das sílabas simples, associando uma consoante a uma vogal obtém-se a sílaba e que, unindo sílabas de modo organizado, compomos palavras com significado. Ex: BA-BO-BE-BU-BI, alternando as sílabas e não as excluindo” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 54).

“Há a concepção equivocada, entre “intelectuais de gabinete” da educação, de que se a conduta na alfabetização for construtivista, o professor não poderá intervir com atividades que ajudem o aluno a avançar, alegando que, se a criança é o sujeito do conhecimento, é preciso deixar que avance sozinha” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 55).

“Analisando a alfabetização ao longo dos últimos 20 anos, constata-se que a teoria constru­tivista tem sido adotada por vários estados do Brasil como se fosse uma fórmula mágica para resolver todos os problemas relativos ao tema, mas resultados de pesquisas como o INAF 2009 (INSTITUTO PAULO MONTENEGRO, 2009) mostram índices alarmantes de analfabetismo” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 56).

“O domínio da língua escrita, enquanto especificidade da alfabetização, e a participação do aluno no mundo letrado têm se configurado como um grande desafio e um problema conside­rável para o sistema escolar. Os dados do INAF 2009 (INSTITUTO PAULO MONTENEGRO, 2009), quanto ao item escolaridade, mostram que 54% dos brasileiros que estudaram até a 4ª série atingem, no máximo, o grau rudimentar de alfabetismo. Outro fato pior é que 10% destes podem ser considerados analfabetos absolutos, apesar de terem cursado de um a quatro anos do ensino fundamental” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 56).

“Entre os alunos que cursam ou cursaram da 5ª a 8ª série, apenas 15% podem ser conside­rados plenamente alfabetizados. Além disso, 24% dos que completaram entre 5ª e 8ª séries do ensino fundamental ainda permanecem no nível mais rudimentar de leitura e escrita. Dos que cursaram alguma série ou completaram o ensino médio, apenas 38% atingem o nível pleno de alfabetismo (o que deveria ter ocorrido para 100% deste grupo). E ainda, somente entre os que chegaram ao ensino superior é que prevalecem (68%) os indivíduos com pleno domínio das habilidades de leitura/escrita e das habilidades matemáticas” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 56).

“Nesse sentido, é urgente a adoção de metodologia adequada para que crianças sejam alfa­betizadas em nosso país, assumindo a definição de alfabetização, em sua especificidade, como conjunto de técnicas para exercer a arte e a ciência da escrita” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 56).

“O construtivismo teve seu mérito, à medida que destronou a cartilha e apresentou uma teoria sobre a aquisição da escrita. Entretanto, segundo Soares (2003a), na época da cartilha havia método sem teoria sobre alfabetização, hoje há uma bela teoria, mas não se tem método. O ideal é que se tenha um método com base em uma teoria de alfabetização” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 56).


Fichamento: Alfabetização e escolarização: A instituição do letramento escolar.

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA - UESB

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS – DCHL
CURSO: PEDAGOGIA VI SEMESTRE
DISCIPLINA: METODOLOGIA DA ALFABETIZAÇÃO
DOCENTE: MARIA DA CONCEIÇÃO FERREIRA
DISCENTE: RAVENA ALVES SILVA


FICHAMENTO
Alfabetização e escolarização: A instituição do letramento escolar.


SANTOS, Carmi Ferraz. Alfabetização e escolarização: A instituição do letramento escolar. In: SANTOS, C. F.; MENDONÇA, M. (Org.). Alfabetização e letramento: Conceitos e relações. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.p.23-36.


“Apesar de se poder estabelecer relação linear e causal entre a industrialização e a constituição de uma escola universal, não se pode afirmar que, a partir do século XVIII, passou-se do total analfabetismo para a alfabetização graças apenas à escolarização” (SANTOS, 2007, p. 25).

“Estudos têm mostrado quanto autônoma tem sido a história da alfabetização em relação à história da escola. Ou seja, não foi preciso que primeiro fosse implantada uma escolarização em massa para que as pessoas comuns fossem alfabetizadas” (SANTOS, 2007, p. 25).

“Antes do desenvolvimento de um sistema burocrático de ensino, o processo de alfabetização ocorria de modo informal, a aprendizagem da leitura e da escrita se dava nos grupos aos quais as pessoas faziam parte e nos mais variados ambientes, como a própria casa ou local de trabalho” (SANTOS, 2007, p. 25).

Para Cook-Gumperz a alfabetização “foi capaz de permitir o crescimento de uma cultura popular letrada, que passou a fazer parte da vida diária das pessoas comuns. A princípio, as práticas de leitura, primeiramente, e a escrita mais tarde, possuíam valor nas áreas recreativas e sociais, assumindo apenas posteriormente um papel na vida econômica dessas pessoas” (SANTOS, 2007, p.25).

De acordo com Laqueur “[...] As pessoas não se alfabetizavam por esta ou aquela razão em particular, mas porque se sentiam mais e mais tocadas em todas as áreas de suas vidas pelo poder da comunicação que apenas a palavra escrita torna possível. Havia, portanto, uma motivação para aprender a ler e a escrever; estas habilidades permitiam que homens e mulheres funcionassem mais efetivamente em uma variedade de contextos sociais. Isto explica por que, na ausência de escolas externamente patrocinadas, ambientes apoiados internamente eram responsáveis pela criação e transmissão da alfabetização” (SANTOS, 2007, p.26).

“A escolarização foi uma consequência do desenvolvimento de uma alfabetização popular que promoveu uma cultura popular letrada que se constituiu como parte de um movimento em favor de mudanças sociais, entre elas o acesso à escola” (SANTOS, 2007, p. 27).

“A implantação de um sistema público de instrução nos séculos XVIII e XIX parece não ter ocorrido como estímulo à alfabetização da população, mas, pelo contrário, buscou subjugá-la, controlando “tanto as formas de expressão quanto de pensamento”” (COOK-GUMPERZ, op cit., p. 40, apud, SANTOS, 2007, p. 28).

“A aprendizagem da língua escrita assume, a partir da escolarização formal, um caráter de alfabetização escolar, passando a considerar como verdadeiramente alfabetizado apenas o sujeito que passasse pela escola” (SANTOS, 2007, p. 28).

“À medida que o processo de escolarização estava sendo implantado, as práticas populares passaram a ser controladas, modificadas ou substituídas” (SANTOS, 2007, p. 28).

“Uma das primeiras conseqüências dessa relação que passa a se estabelecer entre a alfabetização e a escolarização foi a instituição de um processo de alfabetização distanciado dos usos e do material de leitura e de escrita presentes no cotidiano das pessoas. O que passa a ser ensinado mediante a alfabetização escolarizada não faz parte de uma cultura letrada local, uma vez que um ensino que se quer universal necessita de um saber padronizado e sistematizado” (SANTOS, 2007, p. 29).

“A alfabetização efetivada na escola deixa de trabalhar as habilidades discursivas e trata a linguagem meramente como fenômeno lingüístico abstrato” (SANTOS, 2007,  p. 29).

“Segundo Soares (1998), essa relação estreita entre escolarização e letramento controla muito mais do que expande as práticas de letramento, já que desconsidera as práticas de leitura e escrita vividas fora do espaço escolar” (SANTOS, 2007, p. 30).

“Objetivando garantir o acesso a um saber padronizado, a escola se estruturou de forma orgânica e sistematizada. O conhecimento foi, então, dividido e distribuído em programas escolares que determinavam o que deveria ser conhecido, em que tempo, de que modo e como deveria ser avaliado” (SANTOS, 2007, p. 30).

“Conforme Chartier (2000), o século XIX constituiu-se como o século dos manuais de leitura, quando se instalou a disputa entre os partidários de diferentes métodos: métodos de leitura com soletração ou sem ela, depois métodos simultâneo de leitura e escrita, que não utilizavam mais soletração. Havia ainda os abecedários compostos de uma variedade de listas: de sílabas sem significado, de palavras classificadas pelo tamanho (uma, duas, três sílabas), etc” (SANTOS, 2007, p. 30-31).

“Assim como proposto na “Conduite” de La Salle e nos manuais de leitura do século XIX, o ensino deveria ser iniciado pelas unidades menores (letras, sílabas) e levar à sua memorização; passar, então, para às palavras e, só depois introduzir os textos” (SANTOS, 2007, p. 32).

“Assim como os mestres dos séculos XVIII e XIX, muitos professores ainda hoje concebem o ato de ler e escrever como algo neutro e universal e acreditam que o problema fundamental da alfabetização é uma questão de escolha do método a ser utilizado”. (SANTOS, 2007, p. 32).

 “Os professores também não se consideram “verdadeiros” leitores em razão de, apesar de terem acesso a material escrito valorizado pela escola, não conseguem fazer uso das “competências e esquemas de percepção e apreciação transmitidos pela escola”” (BATISTA, 1998, p. 31, apud, SANTOS, 2007, p. 33).

“Talvez a resposta esteja em começar a fazer uma reflexão acerca dos objetivos e valores que têm sustentado as práticas de ensino da língua escrita na escola. Discutindo a noção de método que tem sido entendido como sinônimo de manual, de regras a ser seguidas, e começar a considerá-lo como soma de ações baseadas em conjunto de princípios que responde a objetivos determinados” (SOARES, 2004, apud, SANTOS, 2007, p. 34).