UNIVERSIDADE
ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA
DISCIPLINA:
METODOLOGIA DA ALFABETIZAÇÃO
DOCENTE: MARIA
DA CONCEIÇÃO FERREIRA
DISCENTE:
JAQUELINE FURTUOSO COSTA
FICHAMENTO
MENDONÇA, Onaide Schwartz; MENDONÇA,
Olympio Correa de. Psicogênese da Língua
Escrita: contribuições, equívocos e consequências para a alfabetização. In:
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA. Pró-Reitoria de Graduação. Caderno de formação:
formação de professores: Bloco 02: Didática dos conteúdos. São Paulo: Cultura
Acadêmica, 2011. v. 2. p. 36-57. (D16 - Conteúdo e Didática de Alfabetização).
Disponível em: <http://acervodigital.unesp.br/handle/123456789/40138>.
Acesso em: dia mês abreviado ano.
De
acordo com os autores “Pretende-se neste artigo
apresentar os resultados da pesquisa “Psicogênese da língua escrita”, de Emília
Ferreiro e Ana Teberosky, em seus aspectos linguísticos, significativos à
alfabetização, e demonstrar os equívocos mais comuns advindos da interpretação
desvirtuada dessa teoria, bem como suas consequências” (MENDONÇA; MENDONÇA,
2011, p. 37). Para essas autoras “a concepção de que a aquisição do
conhecimento se baseia na atividade do sujeito em interação com o objeto de
conhecimento e demonstraram que a criança, já antes de chegar à escola, tem
ideias e faz hipóteses sobre o código escrito, descrevendo os estágios
linguísticos que percorre até a aquisição da leitura e da escrita” (MENDONÇA;
MENDONÇA, 2011, p. 37).
Nesse sentido, Mendonça e Mendonça (2011, p. 37) ressaltam que
“[...] Pretendemos demonstrar que a aprendizagem da leitura, entendida como
questionamento a respeito da natureza, função e valor deste objeto cultural
que é a escrita, inicia-se muito antes do que a escola imagina, transcorrendo
por insuspeitados caminhos. Que além dos métodos, dos manuais, dos recursos
didáticos, existe um sujeito que busca a aquisição de conhecimento, que se
propõe problemas e trata de solucioná-los, segundo sua própria metodologia...
insistiremos sobre o que se segue: trata-se de um sujeito que procura adquirir
conhecimento, e não simplesmente de um sujeito disposto ou mal disposto a
adquirir uma técnica particular. Um sujeito que a psicologia da lecto-escrita
esqueceu [...]” (FERREIRO; TEBEROSKY, 1986, p. 11).
Com isso, “Ferreiro e Teberosky (1986) desenvolvem também aspectos
propriamente linguísticos da Psicogênese da língua escrita, quando descrevem o
aprendiz formulando hipóteses a respeito do código, percorrendo um caminho que
pode ser representado nos níveis pré-silábico, silábico, silábico-alfabético,
alfabético. Essa construção demonstra a pesquisa, segue uma linha regular,
organizada em três grandes períodos: 1º) o da distinção entre o modo de
representação icônica (imagens) ou não icônica (letras, números, sinais); 2º) o
da construção de formas de diferenciação, controle progressivo das variações
sobre o eixo qualitativo (variedade de grafias) e o eixo quantitativo
(quantidade de grafias)” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 38).
Portanto, “a Psicogênese da língua escrita descreve como o
aprendiz se apropria dos conceitos e das habilidades de ler e escrever,
mostrando que a aquisição desses atos linguísticos segue um percurso semelhante
àquele que a humanidade percorreu até chegar ao sistema alfabético, ou seja, o
aluno, na fase pré-silábica do caminho que percorre até alfabetizar-se, ignora
que a palavra escrita representa a palavra falada, e desconhece como essa
representação se processa. Ele precisa, então, responder a duas questões: o que
a escrita representa e o modo de construção dessa representação” (MENDONÇA;
MENDONÇA, 2011, p. 39).
Sendo assim, “diferentemente dos adultos, as crianças parecem
passar pelas fases pré-silábica e silábica, atingindo finalmente a alfabética.
Nesse nível alfabético, o aprendiz analisa na palavra suas vogais e
consoantes. Acredita que as palavras escritas devem representar as palavras
faladas, com correspondência absoluta de letras e sons. Já estão alfabetizados,
porém terão conflitos sérios, ao comparar sua escrita alfabética e espontânea
com a escrita ortográfica, em que se fala de um jeito e se escreve de outro”
(MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 40).
Equívocos
da Interpretação da Psicogênese da Língua Escrita
O equívoco
da exclusão do ensino de conteúdos específicos da alfabetização
Segundo
os autores (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 40) “reafirmamos
que o construtivismo, com base na Psicogênese da língua escrita, teoria
formulada e comprovada experimentalmente por Emília Ferreiro e Ana Teberosky
(1986), há mais de vinte anos foi introduzido no Brasil, para contribuir na melhoria
da qualidade da alfabetização, e adotado pelos mais importantes sistemas
públicos de ensino. Nesse tempo, vem abalando as crenças e os fundamentos da
alfabetização tradicional, mudando drasticamente a linha de ensino das escolas
e levando os professores a um grande conflito metodológico”.
Percebe-se também que “o referencial teórico da Psicogênese da
língua escrita leva-nos a entender que a escrita é uma reconstrução real e
inteligente, com um sistema de representação historicamente construído pela
humanidade e pela criança que se alfabetiza, embora não reinvente as letras e
os números. A criança alfabetiza a si mesma e inicia essa aprendizagem antes
mesmo de entrar na escola, e seus efeitos prolongam-se após a ação pedagógica,
período durante o qual, para conhecer a natureza da escrita, deve participar
de atividades de produção e interpretação escritas, tendo o professor o papel
de mediador entre a criança e a escrita, criando estratégias que propiciem o
contato do aprendiz com esse objeto social, para que possa pensar e agir sobre
ele. A mediação do alfabetizador não o desobriga de seu papel de informante
sobre as convenções do código escrito. Ele pode aproveitar o subsídio dos
alfabetizados ou mesmo de alunos da classe que estejam em níveis mais avançados
de escrita e que possam ser informantes das relações a serem descobertas pelos
que se encontrem em fases de escrita mais primitivas” (MENDONÇA; MENDONÇA,
2011, p. 41).
Nesse contexto, “o equívoco que se
configura na exclusão da experiência silábica do professor parece ser fruto de
algumas orientações pedagógicas, surgidas no afã de combater as atividades
mecanicistas herdadas das cartilhas, à revelia da própria obra de Emília
Ferreiro que não oferece elementos para fundamentar tal exigência, mas sim
esclarece que a criança pensa, raciocina, inventa, buscando compreender a
natureza desse objeto cultural – a escrita – em um processo dinâmico em
constante construção de sistemas interpretativos” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p.
43).
Apesar de sua teoria não veicular aplicações
práticas decorrentes de suas descobertas, Ferreiro não se furta a comentar suas
próprias ideias: “Fundamentalmente a aprendizagem é considerada, pela visão
tradicional, como técnica. A criança aprende a técnica da cópia, do decifrado.
Aprende a sonorizar um texto e a copiar formas. A minha contribuição foi
encontrar uma explicação, segundo a qual, por trás da mão que pega o lápis, dos
olhos que olham, dos ouvidos que escutam, há uma criança que pensa. Essa
criança não pode se reduzir a um par de olhos, de ouvidos e a uma mão que pega
o lápis. Ela pensa também a propósito da língua escrita e os componentes
conceituais desta aprendizagem precisam ser compreendidos” (FERREIRO, 1985, p.
14). Desse modo, Mendonça e Mendonça (2011, p. 44) afirmam que “[O ato de ler]
não se esgota na descodificação pura da palavra escrita ou da linguagem
escrita, mas [...] se antecipa e se alonga na inteligência do mundo. A leitura
do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não
possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se
prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançado por sua leitura
crítica implica a percepção das relações entre o texto e contexto” (FREIRE,
1989, p. 11-12).
Consequências dos Equívocos da Interpretação da Psicogênese da
Língua Escrita
Na perspectiva dos autores “Fundamentadas na teoria da Psicogênese
da língua escrita, no final da década de 1980, Secretarias de Educação,
motivadas pelo constatado fracasso escolar de 50% dos ingressantes nas, então,
1ª séries, iniciaram um trabalho de elaboração de Propostas Pedagógicas e de
treinamento de Supervisores de Ensino, que reproduziriam tais conhecimentos em
cursos de capacitação a serem oferecidos a alfabetizadores da Rede de Ensino”
(MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 45). Demonstram ainda que a “Definição de
alfabetização - Alfabetização ou Letramento: a confusão inicial se deu por
conta da própria definição de alfabetização. Definir alfabetização e letramento
é de suma importância, pois são dois processos distintos e da sua compreensão
dependerão os resultados da alfabetização em sala de aula. Assim, compreender a
natureza de cada processo é essencial, pois só de posse desse conhecimento o
professor terá condições de decidir sua metodologia de ensino, em função dos
objetivos a serem alcançados” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 45).
Para os autores “No início da alfabetização, independente de ela
se iniciar aos cinco, seis ou sete anos, é imprescindível que o professor
ensine os conteúdos citados por Soares. Assim, alfabetizar significa ensinar
uma técnica, a técnica do ler e escrever. Quando o aluno lê, realiza a
decodificação (decifração) de sinais gráficos, transformando grafemas em
fonemas; quando ele escreve, codifica, transformando fonemas em grafemas. Esse
é um aprendizado complexo, que exige diferentes formas de raciocínio,
envolvendo abstração e memorização. A escrita é uma convenção e, portanto,
precisa ser ensinada” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 46).
Nota-se também que “O
grande equívoco que vem ocorrendo na alfabetização, no Brasil, resulta da
concepção equivocada e das práticas adotadas e divulgadas, decorrentes da má
interpretação da pesquisa de Ferreiro e Teberosky, a Psicogênese da língua
escrita. Ocorre que as atividades didáticas incentivadas pelos intérpretes do
construtivismo, sob a pretensão de contextualizar o trabalho, fazendo o aluno
aprender “em contato com o objeto de conhecimento”, na realidade são
estratégias de letramento e não de alfabetização. Se os proponentes de tais
atividades tivessem conhecimentos linguísticos, saberiam disto. A pseudoleitura
(fingir que se lê), a leitura de diferentes suportes de texto, o pedido para
que os alunos recontem o que foi lido e ajudem o professor a montar um texto na
lousa são atividades de letramento e não de alfabetização” (MENDONÇA; MENDONÇA,
2011, p. 47).
Assim, “Dificilmente,
se encontram professores que conseguem desenvolver um trabalho sistematizado.
Infelizmente, a maioria limita-se a reproduzir as estratégias de nível
pré-silábico de modo aleatório, muitas vezes entregam a atividade sem fornecer
orientações sobre o que é para ser feito” (MENDONÇA; MENDONÇA p. 50).
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